lunes, 20 de julio de 2015

Beata Elisabetta Canori Mora (1774-1825) - A Grande Tribulação e o triunfo de Deus e da Igreja


Beata Elisabetta Canori Mora
(1774-1825)


Beatificada pelo Pp. João Paulo II em 24 de Abril de 1994




A Grande Tribulação e
o triunfo de Deus e da Igreja[1]




A Justiça de Deus em suspenso

«Feita a forte oração, Deus, pela sua infinita bondade, dignou-se escutar-me, e permitiu que me avizinhasse à sua tremenda majestade, e permitiu-me de suster o seu forte braço; eu não queria que descarregasse o golpe terrível do seu justo furor. E assim, por aquele momento foi suspensa a justiça de Deus, mas não aplacada. Mas, por toda a iniquidade que se comete, Deus estabeleceu enviar um terrível castigo sobre a terra, para desse modo lavar tantas imundices e iniquidades como as que se cometem. A oração das almas que o Senhor, pela sua bondade se digna chama-las com o nome de predilectas, vão adiantando o tempo.
Mas virá este tempo terrível e tremendo. Deus fechará os seus ouvidos e não escutará nenhuma oração, e movido pelo zelo de punir justamente as maldades gravíssimas que recebe, a sua divina justiça punirá a todos severamente com a sua mão armada, sem que nenhum possa resistir nem escapar da sua mão vingadora. [...]
Não haverá precaução que seja suficiente para salvar as possessões e as pessoas, porque frente à grande obra que o Senhor está para fazer não há quem possa resistir nem salvar-se; assim que será vã toda prevenção, toda cautela. Aquilo que se deve fazer é recorrer ao Altíssimo, para que se digne, pela sua infinita misericórdia, contar-nos no número daqueles que pré-elegeu, os quais serão contados debaixo do glorioso estandarte da cruz; estes serão todos salvos, com todos os seus bens. Serão contados debaixo deste glorioso estandarte todos aqueles que conservarem a fé em Jesus Cristo no seu coração, e que mantenham a boa consciência, sem contaminá-la com as falsas máximas presentes, das que está cheio todo o mundo.»



Os santos Apóstolos Pedro e Paulo e as Quatro Árvores misteriosas

«O que conto agora teve lugar na festa do grande príncipe dos apóstolos, o glorioso São Pedro, no dia 29 de Junho de 1820. [...]
Pareceu-me ver que se abria o céu e que do alto descia, com grande majestade, circundado de uma corte de santos anjos que cantavam hinos de gloria, o grandíssimo príncipe dos apóstolos, São Pedro, vestido dos hábitos pontificais. Levava na mão o báculo com o qual traçava sobre a terra uma vastíssima cruz. Ao mesmo tempo que o santo apóstolo traçava a dita cruz, os santos anjos rodeavam-no em coroa, cantando com sumo respeito e veneração em louvor do santo apóstolo: «Costitues eos príncipes super omnem terram», com aquilo que vem depois.
Apontava o seu misterioso báculo sobre os quatro lados da cruz que tinha traçado, e vi então aparecer árvores verdejantes, recobertas de flores e frutos preciosíssimos. As misteriosas árvores eram em forma de cruz, circundadas de uma luz resplandecente. Depois disto, [São Pedro] foi abrir todas as portas dos mosteiros das monjas e dos religiosos. Com interno sentimento entendia que o santo apóstolo tinha erigido aquelas quatro árvores misteriosas para dar um lugar de refugio à pequena grei de Jesus Cristo, para libertar os bons cristãos do tremendo castigo que levará o mundo inteiro ao caos. Todos os bons cristãos que tenham conservado no seu coração a fé de Jesus Cristo, estarão refugiados debaixo destas misteriosas árvores; como âncora, todos os bons religiosos e religiosas, que fielmente tenham conservado no seu coração o espírito do seu santo instituto, estarão todos debaixo destas árvores misteriosas refugiados e libertos do tremendo castigo. O mesmo digo de tantos bons eclesiásticos seculares e outros tipos de pessoas, que terão conservado a fé no seu coração; estes serão todos salvos.
Mas ai daqueles religiosos e religiosas não observantes que desprezam as santas regras, ai, ai, porque todos perecerão sob o terrível flagelo. O mesmo digo de todos os maus eclesiásticos seculares e todo o tipo de pessoas, de todo o estado, de toda condição, que dão largas à libertinagem e vão detrás das máximas da reprovada filosofia presente. Estas [máximas] são contra as máximas do Santo Evangelho, negam a fé em Jesus Cristo. Estes infelizes perecerão todos sob o peso do braço exterminador da divina justiça de Deus, à qual nenhum poderá resistir.
Os bons cristãos estavam refugiados debaixo das misteriosas árvores, que eu ali via na forma de belas ovelhas, sob a custodia do seu pastor, São Pedro, ao qual prestavam humilde submissão e respeitosa obediência. Este símbolo significa o povo cristão que milita sob o glorioso estandarte da cruz, o qual será imune ao tremendo castigo que Deus está para mandar à terra por tantos pecados que se cometem por parte da maior parte do cristianismo.»



Deus rir-se-á deles
[Os Três Dias de Trevas][2]

«Concluída pelo santo apóstolo a dita operação de assegurar sob as misteriosas árvores a pequena grei de Jesus Cristo, São Pedro voltou ao céu acompanhado pelos santos anjos que com ele tinham descido. Uma vez que voltaram ao céu, este vestiu-se de um tenebroso azul, que aterrorizava só de olhar; um impetuoso vento de densa névoa fazia-se ouvir em toda a parte... o som impetuoso e sinistro ouvia-se no ar, qual feroz leão com o seu feroz rugido, e fazia ressoar o seu eco por toda a terra.
O terror punha todos os homens e todos os animais aterrorizados. Todo o mundo estará em revolta e matar-se-ão uns aos outros, chacinar-se-ão entre eles sem piedade. No tempo da sangrenta pugna a mão vingadora de Deus estará sobre estes infelizes, e com a sua omnipotência punirá o seu orgulho e a sua temerariedade, a sua desfaçatez e a sua presunção. Deus servir-se-á do poder das trevas para exterminar estes sectários, estes homens iníquos e malvados que pretendem derrubar e erradicar das suas profundas raízes e dos seus profundos fundamentos a santa mãe Igreja católica.
Por meio da sua perversa malícia, estes homens indignos pretendem destronar a Deus do seu augustíssimo trono. Deus rir-se-á deles e da sua malícia, e com só um movimento da sua omnipotente mão direita punirá estes homens iníquos, permitindo ao poder das trevas sair do inferno. Estas grandes legiões de demónios percorrerão todo o mundo, e por meio de grandes ruínas darão cumprimento às ordens da divina justiça, às quais estão sujeitos estes espíritos malignos; assim que, nem mais nem menos de quanto Deus o permita, poderão danar os homens e as suas coisas, as suas famílias, os seus poderes, vilas, cidades, casas e palácios, e qualquer outra coisa sobre a face da terra.
Deus comandará imperiosamente ao poder das trevas que destrua todos os rebeldes, que temerariamente tiveram a coragem de O ofender. Deus permitirá que estes homens iníquos sejam castigados pela crueldade dos ferozes demónios, porque voluntariamente se submeteram ao poder de Satanás e com ele se confederaram para destruir a santa Igreja católica. Permitirá Deus que sejam punidos por estes espíritos malignos por meio de uma morte cruel e despiedosa. [...]
Mas os verdadeiros e bons cristãos terão em seu favor o valioso patrocínio dos gloriosos apóstolos São Pedro e São Paulo. Estes vigilá-los-ão, os cuidarão e custodiarão, a fim de que aqueles espíritos malignos não possam danar nem as suas possessões, nem as suas pessoas. Estes bons cristãos serão imunes e preservados da despiedosa ruína que produzirão estes espíritos malignos, com a permissão de Deus e não de outra forma, porque este imenso Deus é o absoluto Senhor do céu e da terra, e do inferno, do qual o tenebroso poder não pode fazer o mais pequeno dano sem o sumo consentimento de Deus, sem a Sua vontade. Deus permitirá que estes espíritos malignos façam grandes estragos sobre a terra, devastando todos aqueles lugares donde Deus foi e é ultrajado, profanado, idolatrado e sacrilegamente tratado: todos estes lugares serão demolidos sem ficar vestígio deles.»



A reconciliação de Deus com os homens

«Cumprida a dita obra, punidos os ímpios com morte cruel, demolidos estes indignos lugares, de repente vi serenar o céu e, imediatamente, do alto, vi São Pedro majestosamente vestido com os hábitos pontificais, acompanhado de um imenso número de anjos, os quais se dispunham à sua volta como uma coroa, e cantando hinos de gloria em louvor do santo, obsequiando-o qual príncipe da terra. Neste momento vi novamente abrir-se o céu e descer com grande pompa e majestade o glorioso São Paulo que, com a autoritária potestade de Deus, percorria num momento todo o mundo, encadeando todos aqueles espíritos malignos infernais, e conduzindo-os à presença de São Pedro, quem, com a sua grande autoridade, os confinou nas tenebrosas cavernas de donde tinham saído. À ordem do santo apóstolo São Pedro todos voltaram ao fundo do inferno.
Então vi aparecer sobre a terra um belo esplendor que anunciava a reconciliação de Deus com os homens; os santos anjos conduziram a pequena grei de Jesus Cristo à frente do trono do grande príncipe São Pedro. Esta era aquela pequena grei de bons cristãos que no tempo do tremendo castigo será refugiado sob as misteriosas árvores antes mencionadas, significadas quais gloriosos estandartes da cruz, insígnia misteriosa da nossa santa religião católica. Os misteriosos frutos das mencionadas árvores são os méritos infinitos de Jesus crucificado, que por amor do género humano quis ser cravado na árvore da cruz.
Depois de que os anjos apresentaram a pequena grei diante do trono do grande príncipe do apóstolo São Pedro, todos aqueles bons cristãos lhe fizeram profunda reverencia, e bendizendo a Deus, com uma grandessíssima humildade agradeceram a Deus e ao santo apóstolo por ter regido e sustentado a Igreja de Jesus Cristo e o cristianismo, para que não andasse no erro das falsas máximas do mundo. O santo [São Pedro] escolheu o novo pontífice[3], foi reordenada toda a Igreja, segundo os verdadeiros ditames do santo Evangelho, restabeleceram-se as ordens religiosas, e muitas casas de cristãos tornaram-se em casas religiosas, tanto era o fervor e o zelo pela gloria de Deus que tudo era ordenado ao amor de Deus e do próximo. Desta maneira formou-se num momento o triunfo, a glória, a honra da Igreja Católica: por todos era aclamada, por todos estimada, por todos venerada, todos a seguiram, reconhecendo todos o vigário de Cristo, o sumo pontífice.»





Breves dados biográficos da Beata Elisabetta Canori Mora


  
Elisabetta Canori Mora nasce em Roma a 21 de Novembro de 1774 no seio de uma família abastada e profundamente cristã. O pai, Tomasso, era um importante proprietário terratenente e geria muitas possessões agrícolas. Do matrimónio dos pais de Elisabetta nascera doze filhos, seis dos quais morrerem no primeiro ano de vida.
Passados uns poucos anos a situação económica da família ficou difícil e Tommaso Canori confiou Elisabetta e uma filha mais a um irmão seu que morava em Spoleto. Por sua vez o tio confiou Elisabetta às irmãs agostinhas do mosteiro de Santa Rita de Cascia, donde ela distinguiu pela inteligência, profunda vida interior e espírito de penitencia.
De volta a Roma, leva durante uns anos uma vida brilhante no mundo, sem perder a sua coerência moral.
Um prelado, amigo da família propôs a Elisabetta que entrasse no mosteiro das Oblatas de São Filipe, fazendo-se cargo de todas as despesas, mas Elisabetta não aceitou o convite para não deixar a família em dificuldade.
A 10 de Janeiro de 1976 na Igreja de Santa Maria in Campo Carleo, Elisabetta casou-se com Cristoforo Mora, um bom rapaz, culto, educado, religioso, com uma boa carreira de advogado. Depois de alguns meses, Cristoforo apaixonou-se por outra mulher, e traiu a sua esposa Elisabetta, deixando de lado as obrigações familiares e deixando-a na miséria.
Elisabetta reage aos maltratamentos físicos e psicológicos do marido com total fidelidade. Nasceram as filhas Marianna em 1799 e Maria Lucina em 1801. Era obrigada a ganhar o próprio sustento com o seu trabalho, educava as filhas e dedicava-se ao cuidado quotidiano da casa, alem de dedicar também tempo à oração, ao serviço dos pobres e dos doentes.
Muitas pessoas acudiam a ela por necessidades materiais e espirituais. Entrou na ordem secular dos Trinitarios. Difundiu-se a fama da sua santidade, das suas experiencias místicas (revelações de parte de Nosso Senhor e participação na Paixão de Cristo, sendo estigmatizada) e pelo dom de curar os doentes.
Entregou-se a si mesma pela conversão do marido, pelo Papa, pela Igreja e pela cidade de Roma.
Morreu a 5 de Fevereiro de 1825 e foi sepultada na igreja de San Carlo alle Quattro Fontane.
Depois da sua morte o marido converte-se, entrou ele também na Ordem Secular dos Trinitarios; é consagrado irmão menor conventual e sacerdote, como Elisabetta lhe tinha pedido.

Elisabetta Canori Mora foi beatificada a 24 de Abril de 1994 por São João Paulo II. A sua memoria litúrgica celebra-se no dia 5 de Fevereiro. As suas relíquias veneram-se na Igreja de San Carlo alle Quattro Fontane, dos padres trinitários espanhóis.






[1] Elisabetta Canori Mora, La mia vita nel cuore della Trinità. Diario della beata Elisabetta Canori Mora, sposa e madre, Librería Editrice Vaticana, 1996.
Parte terza – alla maggiore gloria di Dio (dal 1820 al 1824), 50. Vittima di riconciliazione, 3, 5, 6, 7.

[2] O que aqui vem descrito corresponde aos “Três Dias de Trevas”. Facto visto por muitos místicos católicos como Santa Maria de Jesus Crucificado (1846-1878), Beata Anna Maria Taigi (1769-1837), São Gaspare Búfalo (1786-1837), São Pio de Pietrelcina (1887-1968), Beata Elena Aiello (1895-1961) e falado também por Nossa Senhora e Jesus em algumas das suas aparições, como são aquelas em La Salette (1846), a Maximin Giraud e a Mélanie Calvat, e aquelas em El Escorial (1981-2002) a Luz Amparo Cuevas.

[3] Jesus Cristo e Nossa Senhora, na mensagem de 18 de Dezembro de 1981, em El Escorial, descrevem também o processo da Grande Tribulação, da eleição de um novo Pontífice por parte de São Pedro e São Paulo, e o triunfo da Igreja.